Quando falamos sobre mulheres em Hollywood, principalmente a clássica Hollywood, logo resgatamos no nosso imaginário comum as grandes estrelas de cinema. Atrizes que ficaram famosas não só pelo talento, mas também pela beleza, vestidos e cabelos perfeitos, como Marilyn Monroe, Audrey Hepburn e Grace Kelly. Essas atrizes serviram muito bem ao sistema de estrelas (star system) Hollywoodiano que lucrava com suas imagens e construía padrões femininos inalcançáveis que sustentavam -e sustentam até hoje- uma indústria da moda e da beleza.
O que pouca gente sabe é que, até 1925, metade dos filmes de Hollywood eram feitos por mulheres. Eram diretoras, roteiristas, atrizes e produtoras que ajudaram a formar Hollywood. Porém, a história dessas mulheres permaneceu em invisibilidade por anos e até mesmo quem estuda cinema encontra dificuldade de ter contato com essa parte da história do cinema.
É para preencher essas lacunas de ausência de informação, e tirar do esquecimento nomes importantes de mulheres que foram fundamentais para Hollywood, que as irmãs francesas, Julia e Clara Kuperberg, lançaram o documentário Women Who Run Hollywood (Em tradução livre: Mulheres Que Fizeram Hollywood).
Atualmente, segundo as diretoras, 20% dos filmes independentes feitos nos Estados Unidos são realizados por mulheres e apenas 8% dos blockbusters tem uma mulher na direção. Um cenário bastante diferente do que havia até a década de 1920, quando as mulheres dirigiam metade dos filmes, eram mais bem pagas que os homens e ocupavam diversas outras funções para além da de atriz.
O documentário Women Who Run Hollywood, que foi exibido no Brasil pela primeira vez no Festival do Rio desse ano e depois no Cinesesc, em São Paulo, traz várias informações sobre quem eram essas mulheres e o que fizeram.
Frances Marion, por exemplo, foi a primeira mulher a ganhar um Oscar de melhor roteiro pelo filme O presídio, de 1930. Dois anos depois, ela ganhou o Oscar outra vez por O campeão, um feito que até então nenhum homem havia alcançado. Já Lois Weber foi uma das cineastas mais bem-sucedidas do início de Hollywood. Trabalhou em cerca de 130 filmes, foi a primeira a ter um estúdio com o seu nome e foi responsável pelo primeiro nu frontal feminino em 1915, no filme Hyprocrites.
A mais famosa delas talvez tenha sido Mary Pickford, que, junto com Griffith, Chaplin e Douglas Fairbanks, fundou um dos mais importantes estúdios da história, o United Artists. E por falar em Charles Chaplin, que até hoje é um símbolo do cinema, o documentário traz o nome de Mabel Normand que dirigiu alguns filmes de Chaplin, mas não teve seu nome perpetuado ao longo dos anos como ele teve.
De acordo com Women Who Run Hollywood, em seus primórdios o cinema não era considerado um negócio sério, um empreendimento seguro. Os homens preferiam empregos que lhes assegurassem respeito, “profissões sérias”, como as de advogado, contador ou médico. Assim, as mulheres ocuparam esse espaço e trabalharam com um cinema bastante experimental e autoral.
Os judeus que chegavam da Europa e por preconceito não eram aceitos nas profissões que rendiam prestígio também se envolveram com o cinema. Assim, a princípio, Hollywood era um negócio de mulheres e judeus.
Com o sucesso do primeiro filme falado da história, O cantor de jazz (1927), os Estados Unidos passaram a ver o cinema como um mercado que poderia ser bastante lucrativo e o interesse masculino em ocupar esse espaço aumentou, principalmente depois da crise de 1929, o que fez com que os homens perdessem seus empregos prestigiados. Foi assim que eles começaram a ocupar as vagas que antes eram ocupadas por mulheres – principalmente porque, muitas vezes, tinham mais dinheiro do que elas. Assim,a representação e a representatividade de mulheres em Hollywood nunca mais foi a mesma.
E foi assim que o cinema começou a ser visto com bons olhos e tornou-se um negócio de fato lucrativo. O ramo foi dominado por homens e suas precursoras foram jogadas no esquecimento. Não ouvimos falar dessas mulheres, do trabalho que tiveram, do que superaram ou do que conquistaram. E é por isso que Women Who Run Hollywood é um esforço importante de recuperação dessa memória – e que precisa ser visto por todo mundo.
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