Margaretha Gertruida Zelle, mais conhecida como Mata Hari, foi uma dançarina holandesa que se destacou durante a Primeira Guerra Mundial. Muitos chamavam-na de dançarina exótica, diziam que ela possuía um mistério do oriente, e ela fingiu ser, por muitos anos, essa figura – mas ia muito além disso. A história de Mara Hari é real e é nessa personagem icônica, que se tornou o símbolo da ousadia feminina no século 20, que Paulo Coelho se baseia para escrever o livro A Espiã.
O autor inicia o livro pelo que muitos consideraram o final: a morte da protagonista. Porém, para quem conhece a história da dançarina, não é novidade que ela foi, de fato, executada por ser considerada uma espiã. Em 1917, ela foi a julgamento na França por ser considerada tanto espiã quanto agente dupla para a França e para a Alemanha, sendo fuzilada no mesmo ano em que foi acusada. Sua participação na guerra como espiã, porém, é contestada até hoje.
Margaretha era filha de um empresário holandês, e no país casou-se com um homem que a abusava, tanto física e sexual, quanto psicologicamente. Cansada dos abusos, e após um episódio que a marcou para o resto da vida – que não há como saber se é verídico ou apenas liberdade artística do autor -, Margaretha deixa a Holanda e parte para o centro do mundo: Paris. Lá, inicia sua nova vida como Mara Hari, uma dançarina exótica do oriente.
A personagem, após tantos abusos prévios, passa a entender o seu corpo e o sexo como uma forma de atingir seus objetivos. Assim, em sua nova vida, essa é uma moeda de troca para a sua ascensão econômica, política e social. Há relatos de que Mata Hari, após ficar muito conhecida como dançarina, começou a ser cortesã e passava suas noites com diversos oficiais do exército, tanto franceses, quanto alemães, o que teria gerado a suspeita de que ela era uma agente dupla.
Logo no início do livro A Espiã, temos uma carta que Mata Hari escreve antes de sua morte, da qual há um trecho interessante a se destacar:
“Sou uma mulher que nasceu na época errada e nada poderá corrigir isso. Não sei se o futuro se lembrará de mim, mas, caso isso ocorra, que jamais me vejam como uma vítima, mas sim como alguém que deu passos corajosos e pagou sem medo o preço que precisava pagar”
Mata Hari, com certeza, foi uma mulher ousada, que incomodou muita gente em seu tempo e que, talvez, incomodaria muitas pessoas atualmente também. Seu grande “crime”, para muitos, foi ter sido uma mulher dona de si, não submissa a ninguém, muito menos a um homem em especial. Ela era dona de seu próprio corpo – apesar de o tema “prostituição” ainda gerar muitos debates – de suas vontades e pagou por isso, por ser uma mulher livre numa sociedade machista.
E, apesar da história se situar há mais de cem anos, muitas mulheres ainda pagam o preço por serem livres numa sociedade que patriarcal e opressora.
O autor dispensa quaisquer apresentações. Paulo Coelho é considerado como um dos maiores escritores nacionais. O problema do livro, porém, não diz respeito à pessoa do autor nem como ele foi escrito. O problema é que se trata de um homem escrevendo sobre uma mulher complexa e poderosa como Mata Hari. E longe de mim falar que isso não é permitido, mas em alguns momentos a personagem passa por problemas que só uma mulher sabe como é, de modo que seus efeitos psicológicos a curto e longo prazo tornam-se rasos quando descritos da perspectiva de um homem, que nunca passou e provavelmente nunca passará por situações semelhantes. E, talvez, a importância e a profundidade da personagem, que poderia ser maior no livro, se perderam um pouco por conta disso.
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