Lado M – Conteúdo Para o Empoderamento Feminino
  • Mulheres Reais
  • Feminismo
  • Comportamento
  • Saúde
  • Cultura
  • Esportes
  • Cotidiano
  • Sobre/Anuncie
A Espiã
Cultura 1

A Espiã: uma mulher forte desenhada pela perspectiva masculina

Por Marina Morais · Em 23 de dezembro de 2016

Margaretha Gertruida Zelle, mais conhecida como Mata Hari, foi uma dançarina holandesa que se destacou durante a Primeira Guerra Mundial. Muitos chamavam-na de dançarina exótica, diziam que ela possuía um mistério do oriente, e ela fingiu ser, por muitos anos, essa figura – mas ia muito além disso. A história de Mara Hari é real e é nessa personagem icônica, que se tornou o símbolo da ousadia feminina no século 20, que Paulo Coelho se baseia para escrever o livro A Espiã.

O autor inicia o livro pelo que muitos consideraram o final: a morte da protagonista. Porém, para quem conhece a história da dançarina, não é novidade que ela foi, de fato, executada por ser considerada uma espiã. Em 1917, ela foi a julgamento na França por ser considerada tanto espiã quanto agente dupla para a França e para a Alemanha, sendo fuzilada no mesmo ano em que foi acusada. Sua participação na guerra como espiã, porém, é contestada até hoje.

Margaretha era filha de um empresário holandês, e no país casou-se com um homem que a abusava, tanto física e sexual, quanto psicologicamente. Cansada dos abusos, e após um episódio que a marcou para o resto da vida – que não há como saber se é verídico ou apenas liberdade artística do autor -, Margaretha deixa a Holanda e parte para o centro do mundo: Paris. Lá, inicia sua nova vida como Mara Hari, uma dançarina exótica do oriente.

A personagem, após tantos abusos prévios, passa a entender o seu corpo e o sexo como uma forma de atingir seus objetivos. Assim, em sua nova vida, essa é uma moeda de troca para a sua ascensão econômica, política e social. Há relatos de que Mata Hari, após ficar muito conhecida como dançarina, começou a ser cortesã e passava suas noites com diversos oficiais do exército, tanto franceses, quanto alemães, o que teria gerado a suspeita de que ela era uma agente dupla.

Logo no início do livro A Espiã, temos uma carta que Mata Hari escreve antes de sua morte, da qual há um trecho interessante a se destacar:

“Sou uma mulher que nasceu na época errada e nada poderá corrigir isso. Não sei se o futuro se lembrará de mim, mas, caso isso ocorra, que jamais me vejam como uma vítima, mas sim como alguém que deu passos corajosos e pagou sem medo o preço que precisava pagar”

Mata Hari, com certeza, foi uma mulher ousada, que incomodou muita gente em seu tempo e que, talvez, incomodaria muitas pessoas atualmente também. Seu grande “crime”, para muitos, foi ter sido uma mulher dona de si, não submissa a ninguém, muito menos a um homem em especial. Ela era dona de seu próprio corpo – apesar de o tema “prostituição” ainda gerar muitos debates –  de suas vontades e pagou por isso, por ser uma mulher livre numa sociedade machista.

E, apesar da história se situar há mais de cem anos, muitas mulheres ainda pagam o preço por serem livres numa sociedade que patriarcal e opressora.

O autor dispensa quaisquer apresentações. Paulo Coelho é considerado como um dos maiores escritores nacionais. O problema do livro, porém, não diz respeito à pessoa do autor nem como ele foi escrito. O problema é que se trata de um homem escrevendo sobre uma mulher complexa e poderosa como Mata Hari. E longe de mim falar que isso não é permitido, mas em alguns momentos a personagem passa por problemas que só uma mulher sabe como é, de modo que seus efeitos psicológicos a curto e longo prazo tornam-se rasos quando descritos da perspectiva de um homem, que nunca passou e provavelmente nunca passará por situações semelhantes. E, talvez, a importância e a profundidade da personagem, que poderia ser maior no livro, se perderam um pouco por conta disso.


Curtiu o texto? Então leia também: Dinah Washington e a diferença que um dia faz

Espiãfilmes e livrosPaulo Coelhoresenha
Marina Morais

Marina Morais

Marina é paulistana, feminista e torcedora fanática. Busca, por meio do jornalismo, lutar contra a discriminação de gênero e dar voz às mulheres no universo esportivo, sejam atletas ou torcedoras.

Você pode gostar também

  • tudo pode ser roubado Cultura

    Tudo Pode Ser Roubado explora os limites da ética e da honestidade

  • Cultura

    Por que Alias Grace é a próxima série que você precisa assistir

  • Aline-Bei-o-peso-do-pássaro-morto Cultura

    Livro de Aline Bei traz relato sobre ser mulher, misturando prosa e poesia

1 Comentário

Deixe uma resposta Cancelar respostas

Follow @siteladom
Follow on Instagram

Instagram

Siga o @siteladom

Acompanhe o nosso canal!

https://www.youtube.com/watch?v=LQHHefGcxvQ&t=5s
  • Popular
  • Comentários
  • Tags
  • racismo

    Duas mães denunciam o racismo, mas só uma delas é levada a sério

    29 de novembro de 2017
  • Eu, minha mãe e nosso relacionamento abusivo

    18 de julho de 2016
  • Tenho HPV – Lidando com uma doença sexualmente transmissível

    12 de Janeiro de 2016
  • Pai incrível ou: como os homens são exaltados por fazerem quase nada

    3 de Maio de 2015
  • Eu nunca vi isso por esse lado: os problemas de Friends

    2 de novembro de 2015
  • Desabafos de uma grávida: porque nem toda gestação é só felicidade

    23 de Maio de 2016
  • Sobre a depressão: “Preciso levantar dessa cama”.

    6 de outubro de 2014
  • Vandressa Suzano says: Simplesmente perfeito! As pessoas romantizam mesmo a gravidez, mas não chega ...
  • Sayonara says: Então vamos ser duas pois n tem nem um mês que estou tomando e quero para tbm,...
  • Diandra says: Eu tomei AC por 10 anos, o ano passado eu tive um AVC hoje eu não posso tomar ...
  • Naty says: Amei o texto ! Por isso optei pelo aborto e não me arrependo ! E se eu engravi...
  • Lu trindade says: O amor não tem idade,quando a gente ama opiniões dos outros não contam....
  • Natasha Kisaragi says: Não sei exatamente o motivo, mas eu não consigo me ver bonita, posso receber v...
  • Sabrina Nicola says: Estou admirada por ver quantas pessoas passam pelo mesmo que eu! Como 'arruma...
Cultura Comportamento Slider Mulheres Reais resenha Feminismo Livros Livro Machismo Cinema Cotidiano relacionamentos Sexo Especiais Filme Companhia das Letras Mulheres Marcella de Carvalho
  • Mulheres Reais
  • Feminismo
  • Comportamento
  • Saúde
  • Cultura
  • Esportes
  • Cotidiano
  • Sobre/Anuncie

Lado M - Conteúdo para o Empoderamento Feminino